Em Nova Vida, pequena comunidade na zona rural de Bom Jesus das Selvas, no Maranhão, um grupo de seis mulheres se uniram em cooperativa para produzir castanha de caju. Agora o grupo, em parceria com o Estúdio Flume – escritório de arquitetura de São Paulo – acaba de ganhar uma sede. O resultado é um local agradável, funcional, que respeita as características regionais.
A sede de trabalho foi criada em uma pequena casa da comunidade, que foi reformada. Além de reaproveitar ao máximo a residência existente de alvenaria, o Estudio Flume observou os materiais disponíveis no povoado para desenvolver o projeto, num processo de criação coletiva com a comunidade. Desta forma, o principal elemento construtivo é o bloco cerâmico de 8 furos, o mais popular na região, além das portas pivô venezianas. Isso garante a constante ventilação dos ambientes.
A ideia foi aplicar os princípios bioclimáticos, promovendo o conforto térmico para atender a demanda por um espaço com baixo custo de manutenção, em um clima tropical semiúmido. Nova vida está inserida na área dos cocais – transição entre os biomas da Amazônia e do Sertão.
Água limpa
Princípios da permacultura também foram incorporados ao projeto, sobretudo pela falta de sistema de esgoto e abastecimento regular de água potável. Na construção, foram inseridos coleta de água da chuva, biodigestor de fossa séptica para o tratamento de esgoto e círculo de bananeiras para filtrar as águas cinzas. A ideia do estúdio é que estas técnicas possam ser difundidas e replicadas na comunidade.
Mas, como os moradores, que não integram a cooperativa, saberão delas? Neste ponto, entra outro aspecto interessante da obra: o espaço também servirá como ponto de encontro e convívio com os vizinhos. “A ausência de equipamentos públicos na comunidade nos motivou a pensar em elementos como a marquise e banco de concreto. Eles são um convite para que a comunidade se encontre e compartilhe aquele espaço. Entre a área de cocção da castanha e a área de quebra da semente, foi criado um pátio interno como espaço articulador que funciona também como área de secagem das castanhas ao sol. Este pátio interno, assim como o jardim externo, propõe-se a funcionar como o lugar de encontro da comunidade. Este espaço foi completamente fechado com tijolos cerâmicos na horizontal, permitindo maior ventilação, iluminação e permeabilidade entre dentro e fora”, explica o Estudio Flume.
Do interior para o mundo
Apesar do projeto estar em um pequeno povoado no interior do país, ele já reverbera por vários lugares – até mesmo fora do país. Até esta sexta-feira (17), por exemplo, o projeto batizado de “Sede Castanhas de Caju” está na exposição “Hidden Architects” no Seul Hall of Urbanism and Architecture, um museu na Coreia do Sul. Além disso, em 2019, este foi um dos 12 projetos selecionados no Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake.
Fonte: Ciclo Vivo