O mercado de produtos lácteos à base de vegetais é a nova grande aposta da indústria vegetariana do Brasil. Após a consolidação dos produtos à base de vegetais que imitam o sabor e a textura da carne animal, como hambúrgueres e embutidos, agora é a vez dos leites. O grande diferencial neste caso é perfil da demanda, que cresce com a mesma velocidade do surgimento de doenças e intolerâncias associadas ao consumo do leite animal – direcionando um público enorme para os leites alternativos.
Embora não exista um cálculo específico sobre o tamanho do mercado brasileiro de produtos livres de proteína animal, a Abras (Associação Brasileira de Supermercado) avalia que a demanda por produtos vegetarianos é maior do que a oferta no país e responde por boa parte dos R$ 55 bilhões faturados pelo segmento de produtos naturais, anualmente. Empresários estimam ainda que o mercado vegano tenha crescido a uma taxa anual de 40%, nos últimos anos, em média.
Aumento da demanda
Os dados refletem um fenômeno social: atualmente, 14% da população se declara vegetariana, segundo pesquisa divulgada pelo Ibope Inteligência, em abril de 2018. Em grandes capitais como São Paulo, Recife, Curitiba e Rio de Janeiro, esse percentual sobe para 16% — o que representa um crescimento de 75% da população vegetariana nessas regiões, nos últimos seis anos. A mesma pesquisa do Ibope Inteligência encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) mostra que 55% dos brasileiros consumiriam mais produtos veganos, se existissem indicações sobre os produtos no ponto de venda.
Mercado
De olho nesse mercado em ebulição, empresas como a brasileira Vida Veg apostam alto no Brasil. A companhia está prestes a inaugurar a maior e mais moderna fábrica de substitutos lácteos do País, o que irá causar um grande impacto no segmento de produtos veganos, nos próximos anos. O portfólio de produtos 100% vegetal oferece aos consumidores iogurtes, shakes, queijos e a nova linha de leites vegetais frescos nos sabores de coco, amêndoas e castanha de caju. Anderson Rodrigues, diretor executivo da Vida Veg, afirma que os lácteos de origem vegetal produzem menor impacto ambiental em comparação com os produtos de origem animal. “A produção de cada litro de leite de amêndoas ou de coco demanda 70% menos água em comparação ao leite de vaca, além de não precisar explorar nenhum animal”, explica.
A multinacional de origem grega Violife também enxerga o atual momento como oportunidade. O desembarque dos produtos está previsto para setembro e deverá contemplar uma linha completa de queijos do tipo mozzarela, prato, provolone, parmesão, entre outros. Os queijos veganos da Violife estão entre os mais consumidos nos Estados Unidos e ficaram entre as 20 marcas de queijo mais vendidas no Reino Unido em 2018 – sendo o primeiro do tipo vegano a aparecer na tradicional pesquisa da The Grocers. “O queijo Violife é unanimidade entre as pessoas que já experimentaram. No teste cego, é muito comum confundirem os produtos com o queijo de origem animal”, explica Paulo Treu, diretor da Global Picks Brasil, empresa responsável pela venda no País.
Estados Unidos
O fenômeno observado atualmente no mercado brasileiro já foi presenciado nos Estados Unidos, há alguns anos. O mercado por lá está mais consolidado e com fôlego cada vez maior. De acordo com dados da Consultoria Nielsen, o mercado varejista de leites vegetais nos Estados Unidos apresentou crescimento de 20% no volume de vendas, em comparação a 2017. As receitas destes produtos cresceram 9% no mesmo período, atingindo US$ 1,6 bilhão e representando um percentual de 13% do mercado total de leites. Os iogurtes (+55%), queijos vegetais (+43%) ocuparam lugar de destaque, seguidos pelas carnes vegetais (+24%) e ovos/maioneses (+16%). Um detalhe em comum que pode ser observado é o crescimento na casa dos dois dígitos.
Mais do que um simples movimento ou tendência, o vegetarianismo e o veganismo se tornaram hoje um grande reflexo do comportamento veggie que tomou conta do Brasil.