Trigo tem alta pela elevada demanda por pães, massas e biscoitos durante quarentena

A indústria de pães, massas e bolos industrializados registrou alta de 15% a 20% no volume comercializado

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A indústria de pães, massas e biscoitos do Brasil prepara reajustes de 12% a 30% em seu portfólio ao longo deste semestre, para repassar o aumento de custos com o trigo, ao mesmo tempo em que vê o consumo de seus produtos crescendo com os isolamentos contra o coronavírus, disse à Reuters um representante do setor.

A alta de preços pode até gerar uma desaceleração na demanda, em um primeiro momento, admitiu o presidente-executivo da Abimapi, Cláudio Zanão.

Mas ele destacou também que o setor está sendo beneficiado pelo isolamento domiciliar, pois vende produtos que oferecem facilidades aos consumidores, com a praticidade muitas vezes prevalecendo sobre os custos na hora da decisão de compra.

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“Nós crescemos em consumo, mas não podemos comemorar pela situação que estamos enfrentando”, ponderou ele.

Indústria

Zanão destacou que, em março, a indústria de pães, massas e bolos industrializados registrou alta de 15% a 20% no volume comercializado em relação ao igual período do ano anterior, no momento em que parte da população temeu pela eventual escassez de produtos por causa do isolamento.

“Macarrão é barato e um produto que sai ganhando quando a população passa a comer dentro de casa. O pão de forma também tem a demanda mantida porque as pessoas reduzem o deslocamento a padarias… Não acredito em perda de volume (de vendas) no ano.”

Ele ainda garantiu que não há ausência no abastecimento destes produtos para o comércio varejista.

A perspectiva de incremento na demanda desses industrializados decorrente do isolamento favorece a companhia M. Dias Branco, uma das maiores do setor no país, afirmou a Guide Investimentos em relatório divulgado na quinta-feira.

O bom desempenho do setor trouxe confiança para a Abimapi prever aumento de 3% a 5% nas vendas.

No ano passado, estes segmentos, juntos, movimentaram 36,7 bilhões de reais, 3,5% acima do valor alcançado no ano anterior, e 3,3 milhões de toneladas em volume de vendas, mesmo resultado obtido em 2018, informou a Abimapi com base em dados coletados pela consultoria Nielsen.

Alta do trigo

O aumento nas despesas com o trigo, matéria-prima da farinha usada nesses produtos industrializados, ocorrerá na esteira da valorização do câmbio ante o real, considerando que o Brasil precisa importar o cereal para complementar a oferta local.

A moeda norte-americana fechou em alta de 0,27% na quinta-feira, a 5,2565 reais na venda, registrando ganhos de mais de 30% em 2020.

“O repasse (de custos) deve ser iniciado a partir deste mês. Este aumento tende a ser gradual, pois não há espaço para elevar os preços de uma só vez para o consumidor final”, disse Zanão.

Segundo ele, as indústrias estão com estoque de trigo e produto acabado para cerca de dois a três meses, a depender do fabricante.

Isso significa que os fabricantes precisarão do cereal importado até meados de setembro, quando começa a colheita da safra nacional.

“Saímos de um dólar de 4 reais em janeiro para 5,25 reais, uma valorização de 31%. Das 11 milhões de toneladas de trigo consumidas por ano no Brasil, cerca da metade vêm principalmente da Argentina, este ano com 30% de aumento (de preço), em média”, estimou o executivo.

Os preços do trigo no mercado brasileiro seguiram o preço do produto importado. Registrando alta no ano cerca de 30% no Paraná (principal produtor brasileiro), oscilando perto de patamares recordes nominais em torno de 1.150 reais por tonelada.

Segundo a associação, a farinha representa em torno de 70% do custo das massas, 60% nos pães e bolos e 30% nos biscoitos.

“Sendo assim, qualquer variação no preço do trigo tem impacto direto para os fabricantes.”

Balanço de 2019

A indústria de biscoitos, que responde pela maior participação no faturamento do setor, fechou o ano passado com receita de 18,7 bilhões de reais, aumento de 1,7% ante 2018, e vendas de 1,47 milhão de toneladas, retração de 1,08% em volume.

Em 2019, as indústrias de pães movimentaram um total de 7 bilhões de reais. Um aumento de 4,5% na receita, resultante da venda de 537 mil toneladas de produtos, com alta de 3,4%.

Já o mercado de bolos industrializados atingiu 1,1 bilhão de reais em faturamento, 1,5% a mais se comparado com 2018.

Fonte: Agência Reuters

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