Nosso sistema imunológico pode ser mais social do que imaginamos

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Um debate importante entre pesquisadores de doenças infecciosas é sobre o que de fato mata as pessoas infectadas. Esse questionamento é bastante válido, já que nenhum vírus, por exemplo, tem a “intenção” de matar seu alguém, já que seu objetivo é sobreviver e deixar descendentes, e com um hospedeiro morto, ele não consegue atingir esses objetivos. Com isso em mente, alguns cientistas defendem que o sistema imunológico humano pode acabar ferindo a si mesmo ao tentar sinalizar doenças, como se o esforço para proteger o corpo de um agente invasor pudesse prejudicar órgão vitais, como coração e pulmões. Ao fazer isso, danos podem ser tão graves que se tornam irreversíveis e causando a morte da pessoa.

Isso acaba criando um paradoxo evolucionário, já que ao mesmo tempo que o sistema imunológico se desenvolveu para proteger as pessoas, ele pode acabar sendo o agente responsável por sua morte em seu excesso de zelo, mas pode haver uma resposta lógica para esse dilema.

Essa resposta pode estar na história evolutiva humana, já que a imunidade pode estar ligada tanto à comunicação quanto ao comportamento em relação à biologia celular. Na medida que os pesquisadores vão entendendo as origens amplas do sistema imunológico, podem se colocar em uma melhor posição sobre como dar melhores respostas a ele.

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Damos sinais

Um exemplo do funcionamento do sistema imunológico comportamental, como chamam os especialistas, é a sensação de nojo ou repulsa. Isso acontece, em geral, com substâncias que têm o potencial de representar alguma ameaça à nossa saúde. E essa reação não acontece só com os humanos, já que alguns animais se afastam de outros que apresentam sintomas de doenças.

 

A tosse e o espirro, além de tentar expulsar o invasor, podem ter a função de mostrar para terceiros que precisamos de cuidados. Crédito: Pixabay

Porém, novas pesquisas demonstram que os humanos, particularmente, têm a tendência de mostrar compaixão por pessoas que apresentem doenças ou lesões. Por conta disso, as pessoas tendem a fazer um certo barulho sobre a dor que estão sentindo e o processo febril está associado a um comportamento relativamente lento.

Segundo psicólogos, isso tem a ver com o fato de que as respostas imunológicas têm a ver com comunicação e autossustentação. Ou seja, pessoas que receberam cuidados de terceiros, em geral, se saíram melhores de doenças ao longo da história da humanidade em comparação com outras que se cuidaram sozinhas.

Por conta disso, evolutivamente, nós e outras espécies passamos a desenvolver sinais para evidenciar ou esconder doenças. Como por exemplo, o ato de mancar, tossir ou espirrar, o que provoca uma resposta em quem o vê e é por conta dessa resposta que, instintivamente, nós utilizamos esses sinais.

Essa perspectiva, que tem como base a biologia, o comportamento e os efeitos sociais das doenças, mostra algo diferente do senso comum. Enquanto pensamos que o sistema imunológico é um conjunto de defesas químicas e biológicas contra agentes invasores, na verdade, ele também considera aspectos sociais na hora de agir.

 

Germes também evoluíram

Porém, assim como nós evoluímos, os germes também evoluíram e “aprenderam” a usar alguns de nossos sinais para que eles mesmos consigam se replicar. Um exemplo disso são os vírus gripais, que se aproveitam da tosse e do espirro para se reproduzirem. Outros, até mesmo suprimem nossos sinais para conseguirem se multiplicar antes que a gente perceba, como é o caso do Sars-Cov-2.

 

Uso de máscara e álcool gel são importantes na prevenção da Covid-19 por não podermos confiar apenas nos sinais imunológicos. Zigres – Shutterstock

 

O vírus da Covid-19 pode impedir a nossa sinalização para outras pessoas nos primeiros dias de infecção para poder se transmitir, é o que se convencionou chamar de transmissão assintomática. E esse aspecto é o que faz esse coronavírus tão perigoso, já que as pessoas não podem confiar apenas na leitura dos sinais imunológicos de outras pessoas para conseguir se proteger.

Conforme os médicos vão entendendo como funciona a interação entre o nosso sistema imunológico e os agentes causadores de doenças, podem se adaptar melhor e desenvolver tratamentos mais efetivos em menor tempo para novas doenças. Para isso, serão necessárias mais pesquisas para entender como os germes sequestram ou suprimem sinais imunológicos para atingirem seus objetivos.

Com informações do Science Alert

Fonte: Olhar Digital

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